Descriminilização IVG
Este assunto mexe comigo!
Confesso que a percepção que tenho é que mexe com a grande maioria dos portugueses. Assisti ontem ao debate, prós-e-contras…ditado pela emoção, foi um debate que permitiu ouvir e digerir as opiniões daqueles que são contra a descriminilização do acto de IVG.
Não vou repetir aquilo que foi dito pelos convidados, vou antes fazer uma análise como espectadora de um programa de entretenimento de elevada qualidade.
Nasci em 1974, depois da tão malfadada ditadura que tive a sorte de não viver…mas reparo agora que afinal ainda existe muita herança dessa ditadura, especialmente no que diz respeito às mulheres. Não sou feminista e tenho até alguma aversão a comunidades que têm como propósito defender as mulheres…coisas do género: comissão para a igualdade de direitos das mulheres, organização de mulheres empreendedoras (sinceramente não as sei decor) faz-me lembrar as associações de direitos de animais (esses sim como irracionais que são, precisam de alguém que os proteja, mas as mulheres??? Seremos assim tão fracas de cabeça que precisemos de uma associação para nos fazer ouvir? E depois essas associações ‘escolhem os seus dirigentes a dedo’, em que fico com a sensação de que aquilo que se aproveita do seu discurso é o direito de antena, que conseguem e que fazem brilhar ou não as pessoas que os fazem representar. Para concluir, não me sinto prejudicada por ser mulher, sou uma afortunada!
Adiante,
Tentámos em 1984, fizemos um referendo em 1998, e voltamos novamente a referendar em breve.
Aquilo que eternamente se discute é a questão do direito à vida, mas tb não se discute o direito que as mulheres têm de escolha! De poderem optar! De poderem dizer que uma gravidez é indesejada! De não terem de ‘arcar’ com a ‘culpa’ de terem cometido o pecado de ela ou ele (companheiro) não ter salvaguardado uma gravidez indesejada (muitas vezes alheia até aos mais prevenidos pois nenhum dos métodos contraceptivos é 100% seguro).
Quem é a sociedade para julgar aquilo que se passa na minha vida pessoal, quem é a sociedade para me obrigar a ter um filho que não quero? Quem é a sociedade para me prender porque no desespero da falta de alternativas, eu tenha que pagar a uma parteira clandestina para me desfazer de um bebé que não posso ver nascer?! A isto chamo uma sociedade hipócrita, falsa moralista e de costumes que remontam à era da inquisição.
Quem é a Zita Seabra, para insinuar que as mulheres o poderão fazer levianamente? Sem remorsos ou sentimentos de culpa?...já não tenho paciência para este calibre de políticos que fala fala fala e não diz nada!
Vivemos no sec XXI, ter o dom de gerar a vida não se pode transformar na obrigação de o fazer…não pode ser escrutinado em praça pública, não pode ser humilhado e devassado. Quem tem o dom de gerar, deve ter também o direito de escolher! Porque senão deixa de ser um dom, para ser a obrigação!
Ouvir aquelas pretensas associações falar do que nada percebem, da dura vida que hoje é exigida às mulheres, das exigências profissionais e familiares que hoje são impostas como se estivéssemos a falar de associações de defesa de animais, causa-me repulsa! Uma enorme vontade de as mandar calar e de lhes dizer, que na minha vida mando eu! E se por acaso, tiver a infelicidade de engravidar sem desejar, abortarei! Tal como não se exige a uma mulher que foi violada que leve adiante uma gravidez que lhe foi imposta por circunstâncias violentas física e psicologicamente. Não pode haver dois pesos e duas medidas, nuns casos temos legitimidade para decidir o aborto e noutras somos condenadas como um qualquer criminoso acusadas de quase infanticído. Poupem-me!!!
Já agora…e esta é para pensar!!! Porque é que em caso de laqueação das trompas da mulher é necessário que o marido autorize? Aqui está uma herança da ditadura!! A mulher como ser menor…e até quando?